Olhar para o passado nos ajuda a entender melhor o presente e os caminhos do futuro. Por isso, para entender a Era Digital em que estamos ingressando, faz todo sentido relembrar outras revoluções tecnológicas importantes ao longo da história da humanidade.
Já ouvi muitas pessoas ligadas ao universo tecnológico falando que estamos vivendo uma "era de mudanças". Você provavelmente também já ouviu essa expressão por aí. Particularmente, tenho uma opinião diferente. Assim como Tiago Mattos, no livro “Vai Lá e Faz”, acredito que estamos vivendo uma "mudança de eras".
Essa mudança de eras não é um tema simples ou que pode ser tratado superficialmente. Por isso, nem vou tentar esgotar todo o assunto em um único artigo. Esse será um conteúdo em duas partes. Na primeira, vou abordar a Era Agrícola e a Era Industrial. No próximo, vou tratar da Era Digital e da mudança de paradigma que ela está trazendo.
Existem várias maneiras de contar a história da humanidade. Portanto, também existem várias maneiras de dividi-la. Se o critério forem as revoluções tecnológicas importantes ao longo da história da humanidade, podemos dizer que passamos por 3 grandes eras.
Essas não são apenas divisões formais. Elas representam transformações concretas na maneira como o ser humano vive. Transformações que foram viabilizadas pelas respectivas revoluções tecnológicas.
Então, quando eu abordo as revoluções tecnológicas importantes ao longo da história da humanidade, não se trata de mera curiosidade histórica. É uma forma de entender como nosso modo de vida evoluiu ao longo dos séculos e como ele possivelmente continuará evoluindo nos próximos anos.
A Era Agrícola é pré-histórica. Nessa era, o homem começou a desenvolver ferramentas e técnicas que permitiram cultivar produtos agrícolas. Vale a pena lembrar o que isso significa: antes do Homem desenvolver a escrita, ele já estava passando por uma revolução tecnológica.
Essa foi uma revolução de sobrevivência. Afinal, comparado a outras espécies, o ser humano tem capacidade físicas limitadas. Assim, para que ele pudesse ter melhores chances de sobrevivência em condições desfavoráveis, precisou desenvolver tecnologias úteis.
As ferramentas e técnicas desenvolvidas permitiram que o homem assumisse o controle do crescimento de produtos agrícolas para seu consumo. Mais do que isso, permitiram que o cultivo se tornasse cada vez mais eficiente. Dessa forma, era possível obter colheitas maiores em menos tempo e com menos esforço.
Quanto mais eficiente se tornava o cultivo, menos o Homem precisava se preocupar com sua sobrevivência. Assim, ele tinha mais tempo livre para desenvolver tecnologias superiores. Ou seja, essa revolução tecnológica abriu portas para todas as outras que ocorreram depois.
Dessa forma, ao longo do tempo, passamos das mãos para as enxadas, do arado manual, para o arado mecânico, e assim por diante. Hoje, as maiores plantações já são completamente mecanizadas e estão sendo automatizadas.
De fato, a mecanização é tão grande que precisamos de pouquíssima densidade populacional no campo, e produzimos mais do que o suficiente para atender a toda a população. No gráfico abaixo, você pode ver como a parcela da população trabalhando em atividades agrícolas caiu nos últimos séculos.
A Era Industrial foi marcada por 3 revoluções tecnológicas importantes ao longo da história da humanidade. Você provavelmente se lembra de ter aprendido sobre elas nos bancos da escola ou da faculdade.
A 1ª revolução tecnológica da Era Industrial (ou, simplesmente, 1ª Revolução Industrial) ocorreu nos anos 1760. Foi uma revolução mecânica: passamos a usar água e vapor para mecanizar a produção. Atividades que, até então, eram realizadas de maneira artesanal, passaram a ser mecanizadas.
Nessa época, o homem criava máquinas para obter "músculo mecânico”. As máquinas são mais fortes, mais resistentes e mais confiáveis. Elas conseguem executar o trabalho de várias pessoas, sem precisar de descanso e sem fazer exigências em troca. Assim, houve um forte ganho de produtividade.
Um fato importante é que, por mais transformadora que essa revolução tenha sido, houve alguns milhares de anos levando até o desenvolvimento dessas tecnologias. Isso diferencia a 1ª Revolução Industrial da revolução tecnológica da era digital, que é muito mais acelerada. Vou falar mais sobre isso no próximo artigo.
Nos anos 1870 ocorreu a 2ª Revolução Industrial. Essa foi uma revolução elétrica: ela foi viabilizada pelas pesquisas de nomes como Thomas Edison, Nikola Tesla e James Maxwell. Essas pesquisas levaram ao advento da energia elétrica.
A partir dessa revolução, as máquinas não dependiam da termodinâmica para funcionar. Já não precisávamos mais queimar carvão ou ferver água para gerar energia. Isso eliminou alguns gargalos – por exemplo, a dependência do carvão como fonte, já que ele é não renovável e difícil de obter.
O resultado dessa revolução tecnológica e da eliminação de gargalos foi o ganho de escala. Ou seja, a mecanização que havia sido iniciada em 1760 foi aprofundada a partir de 1870.
E então chegamos aos anos 1970 e à 3ª Revolução Industrial. Essa foi uma revolução da automação: a criação de equipamentos eletrônicos permitiu aumentar ainda mais a produção.
As pesquisas científicas possibilitaram a evolução das válvulas para o diodo e, posteriormente, para o transistor. Quando combinamos vários transistores, temos um processador.
Com transistores menores, conseguimos incluir um número maior de transistores no mesmo espaço. Em outras palavras, temos processadores mais potentes, embora mantenham o mesmo tamanho ou fiquem até menores.
Foi nesse contexto que Gordon E. Moore chegou à famosa Lei de Moore, que prevê a redução do tamanho dos microchips ao longo do tempo. Segundo essa lei, o número de transistores dos chips teria um aumento de 100%, pelo mesmo custo, a cada dois anos.
A Lei de Moore é comprovada pelos fatos. Os processadores começaram a ser produzidos, no século XX, com 1.000 transistores. Atualmente estamos chegando na casa de 30 bilhões de transistores em um único processador.
Assim, foi possível avançar na criação de novos equipamentos eletrônicos, cada vez menores e mais potentes. Foi assim que passamos de computadores que ocupavam uma sala inteira, nos anos 1970, para computadores que cabem em nosso bolso, nos anos 2000.
Vale a pena lembrar que, nesse momento, as transformações já são muito mais rápidas. Elas não ocorrem mais ao longo de milhares ou centenas de anos, mas apenas em questão de décadas. As transformações são ainda mais aceleradas na Era Digital, quando 1 ano pode mudar completamente o cenário tecnológico.
De toda forma, a 3ª Revolução Industrial, que também pode ser considerada uma Revolução do Transistor, levou a uma "competição" entre a tecnologia e o cérebro humano. E, nessa competição, é possível dizer que não estamos ganhando.
O tempo de reação do cérebro humano é de aproximadamente 300 milissegundos. Enquanto isso, os processadores atualmente são capazes de executar tarefas complexas em tempos extremamente baixos, variando de nanossegundos a picossegundos.
Na 1ª Revolução Industrial, substituímos o músculo do Homem pelo “músculo” das máquinas, em muitas atividades mecânicas. A partir da 3ª Revolução Industrial, podemos dizer que estamos fazendo a substituição do raciocínio humano pelo “raciocínio” das máquinas.
Assim, podemos começar a falar sobre "mentes mecânicas".
E quais vantagens elas trazem? São mais rápidas, mais resistentes e mais precisas. Um computador consegue realizar cálculos complexos em menos de um segundo e pode repetir essa tarefa infinitamente (muitas vezes, simultaneamente), sem precisar de descanso e sem cometer erros.
Naturalmente, essas “mentes mecânicas” vão avançar de forma extremamente acelerada na Era Digital, na qual estamos ingressando agora. Esse avanço ocorre, principalmente, com o desenvolvimento da Inteligência Artificial e do Machine Learning.
Essas são novidades que mudam completamente o paradigma sobre o qual se desenvolvem as experiência do Homem com as máquinas.
Agora, as máquinas não estão mais limitadas a fazer apenas ações para as quais forem diretamente programadas. Elas podem evoluir para realizar tarefas mais complexas e apoiar o Homem em atividades que ele não poderia desenvolver sozinho.